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Vendedor paranaense cria barreira flutuante para retirar lixo de rio

Theo Marques/UOL

Cansado de ver garrafas plásticas, latas e até sofás e fogões correndo pelas águas poluídas do rio que passa nos fundos de sua casa, em Colombo (região metropolitana de Curitiba), o vendedor Diego Saldanha, 31, inventou o que chama de ecobarreira, um dique flutuante formado por galões plásticos unidos por uma rede que, esticado de uma a outra margem, funciona como uma barreira que retém o lixo que é arrastado pela correnteza.

Instalada em 20 de janeiro de 2017, a ecobarreira já permitiu que Saldanha retirasse uma tonelada e meia de resíduos do rio Atuba, na estimativa dele. Com cerca de cinco metros de largura e pouco mais de um metro de profundidade, naquele trecho, o Atuba é afluente do rio Iguaçu, que nasce em Curitiba e termina nas cataratas, no extremo oeste do Paraná. É, também, parte da bacia do rio Iraí, uma das principais fontes de abastecimento de água da região da capital. Na manhã de tempo encoberto em que a reportagem visitou a ecobarreira, ela retinha um volume considerável de lixo –principalmente garrafas de plástico PET de refrigerantes, mas também latas de cerveja, duas bolas de futebol, embalagens de produtos de limpeza e químicos. Tudo seria recolhido, dali a pouco, por Saldanha, com o auxílio de um puçá (espécie de rede para captura de peixes).

Ao lado da barreira, o vendedor organizou uma espécie de museu com os objetos mais curiosos que já retirou do Atuba graças a seu invento. Ali estão um fogão, o tanque e o motor de uma máquina de lavar roupas, uma cadeira infantil para automóveis, tubos de imagem de televisores antigos, um aquecedor elétrico e algumas bonecas –essas a mãe dele, Marizete Saldanha, pacientemente restaura e coloca à venda no brechó que possui, no bairro.

“Já tiramos um sofá, também. Mas esse já foi embora, era muito grande para ficar aqui”, explicou Saldanha. Atrás das bolas de futebol, vez ou outra, um piá toca a campainha da casa do vendedor. “Mas 90% do que recolho é plástico reciclável. Lata tem bem menos, sabe por quê?”, questionou, para responder em seguida. “O valor. O quilo da lata tem bom preço nas recicladoras, então o pessoal junta para vender. Já o plástico é barato e volumoso, não vale a pena.”.

Ainda assim, as garrafas de plástico reciclável que os dois filhos de Saldanha levam para a escola municipal em que estudam foram fundamentais para arrecadar quase mil reais em 2017, disse Amaura Bessa da Silva, diretora da instituição. “Temos um projeto chamado Recicle, que estimula os alunos a trazer recicláveis para a escola que são depois vendidos. Em 2017, isso nos rendeu R$ 910” –em boa parte, graças à ecobarreira, que também rendeu ao vendedor um convite para se apresentar num evento para os estudantes.

A invenção de Saldanha é engenhosa. Atada em cada uma das margens a estacas de metal, a ecobarreira pode subir ou descer conforme o nível do rio. Se, numa enchente, as águas passarem do nível das estacas, uma das pontas se solta, por segurança. Mas, até chegar ao projeto atual, ele penou um tanto. “Primeiro, tentei fazer com garrafas PET, mas não funcionou. Daí é que veio a ideia dos galões abraçados pela rede”, explicou.

Ele estimou ter gasto ao menos mil reais no projeto, que também lhe custa dinheiro de outras formas. “Às vezes, perco dia de trabalho para dar palestras em escolas, explicar o que é a ecobarreira. Mas não ligo, é uma coisa que gosto de fazer”, disse Saldanha. O sustento, ele e a família tiram da venda de frutas em semáforos de Curitiba. “É o nosso negócio, e o que faço há 20 anos.

” Numa página que criou no Facebook, Saldanha posta vídeos da ecobarreira. O mais famoso deles tem, segundo o vendedor, perto de 5 milhões de visualizações e 100 mil compartilhamentos. Que renderam procura de interessados em replicar a ideia em outros pontos do país.

Uma delas, em Manaus, no Igarapé do Gigante. “Estou estudando e pegando informações com um ambientalista do Paraná para eu mesmo fazer a ecobarreira”, dizia.

Não são apenas outros ambientalistas que procuram Saldanha. Políticos também paparicam o vendedor – caso, por exemplo, do prefeito de Curitiba, Rafael Greca (PMN). “Diego é meu amigo desde que era piá curitibano”, exagerou Greca, em seu particular estilo parnasiano, num vídeo publicado no Youtube. “[Saldanha] Tem uma cabeça ecológica, e é disso que precisamos em Curitiba”, disse o político, no fim da gravação.

Algumas organizações privadas têm apoiado a ecobarreira. Do Atlético Paranaense, ele -que é torcedor do Coritiba – ganhou três camisas oficiais, que pretende rifar para custear um mutirão de limpeza do rio Atuba. Uma grande empresa de cosméticos também lhe deu alguns presentes. Isso, ao lado de um certificado de agradecimento que recebeu do Ibama, serve como estímulo para o vendedor tocar adiante o projeto.

“Mas o que me move mesmo é lembrar de como era o rio quando eu era moleque. A água era cristalina, cheia de peixe, dava para nadar sem medo. Sei que é difícil voltar a ser o que era, mas é o que busco. A ecobarreira só remove o lixo, então a água segue poluída. Mas já deu para notar que está voltando a dar peixe”, disse Saldanha.

Fonte: UOL

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