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Coronavírus no esgoto?


Desde o final de 2019 o novo coronavírus vem se alastrando para todas as regiões do mundo e desde 11 de março de 2020 passou a ser considerado pandemia pela Organização Mundial da Saúde (OMS). A doença pode ser transmitida por meio do contato com pessoas contaminadas, a partir de tosse, espirro, gotículas de saliva, e de objetos ou superfícies contaminadas, tais como telefones, maçanetas, corrimãos, mesas. Porém, também já foi detectado em fezes de pacientes portando o vírus, e, recentemente, em amostras de esgoto.

O estudo iniciou-se com análises de amostras de esgoto do aeroporto de Schiphol em Amsterdã e das estações de tratamento de esgoto (ETE) de Kaatsheuvel e Tilburg, que reportaram a ocorrência do vírus no esgoto. Também foram publicados trabalhos na revista científica Lancet Gastroenterol Hepatol (vol. 5, abril/2020) que mostram que pacientes com a Covid-19 apresentaram em suas fezes o RNA do Sars-CoV-2.

Neste trabalho, em aproximadamente metade dos pacientes investigados, a detecção do RNA viral se deu por cerca de 11 dias após o fim dos sintomas. O que indica a replicação ativa do vírus no sistema gastrointestinal e a possibilidade da transmissão via feco-oral ocorrer mesmo após o trato respiratório estar livre do vírus.

O Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia (INCT) ETEs Sustentáveis, que se dedica a pesquisas e ações relacionadas ao tratamento de esgoto, sediado na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), utiliza os trabalhos publicados para defender que o monitoramento do esgoto é uma das estratégias para detecção da presença de doença ou infecção viral na população (mesmo entre portadores assintomáticos).

O INCT ETEs Sustentáveis já vem realizando estudos do gênero, e nas próximas semanas pretende analisar amostras de esgoto para realizar mapeamento epidemiológico do novo coronavírus no Brasil. Inicialmente, o estudo será feito na Região Metropolitana de Belo Horizonte, visando identificar regiões onde há maior ocorrência do vírus.

Com estas análises será possível sinalizar às autoridades de saúde os locais em que o vírus está circulando com maior intensidade e isso permitirá uma ação precisa em pontos estratégicos. O professor Carlos Chernicharo, coordenador do INCT, ainda ressalta que é possível que seja indicado, de maneira indireta, a quantidade de pessoas com o vírus, mesmo que essas pessoas sejam assintomáticas.

Embora nenhum estudo ainda tenha confirmado a transmissão feco-oral do vírus, pensando no Brasil, onde há um elevado déficit de coleta e tratamento de esgoto, este tema precisa ser investigado.

Quais as implicações disso para o Brasil e para o setor de Saneamento?

A nota técnica COVID-19 e o Saneamento no Brasil, elaborada por pesquisadores do INCT ETEs Sustentáveis, destaca as principais implicações:

– O monitoramento do esgoto pode der adotado como boa estratégia para detecção da presença de uma doença ou infecção viral na população, inclusive na parcela que não manifesta a doença – portadores assintomáticos.

– A importância dos cuidados que devem ser tomados por profissionais que atuam na área de esgotamento sanitário, tais como operadores de ETE, e os pesquisadores que manuseiam amostras de esgoto. Os equipamentos de proteção individual (EPIs) devem ser utilizados para evitar a ingestão inadvertida de esgoto, ainda que por meio da ingestão de aerossóis, que são partículas extremamente finas em suspensão no ar.

– No período de duração da pandemia, uma enorme carga viral pode estar sendo despejada nos rios, e considerando a atual situação sanitária do Brasil, em que apenas 46% do esgoto que é gerado é tratado (segundo o Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento – SNIS 2018), como consequência, poderá ocorrer o aumento da disseminação do vírus no ambiente e a infecção da parcela mais vulnerável da população, aquela que não tem acesso a uma adequada infraestrutura de saneamento básico.

“Portanto, ações conjuntas e coordenadas dos profissionais da área da Saúde, do Saneamento, das universidades e dos governos são urgentes nesse cenário de emergência de Saúde Pública, que pode se agravar ainda mais em função dos problemas de desigualdade social e do ainda elevado déficit na prestação de serviços de saneamento em nosso país” explica e solicita a nota técnica.

Como tratar águas residuais com Covid-19?

Muitas informações falsas sobre a pandemia estão sendo espalhadas, fato que preocupa as autoridades. Por isso, a Organização Mundial da Saúde (OMS) vem publicando guias técnicos, com objetivo de padronizar as medidas de combate ao vírus em todo o mundo. O guia técnico Water, sanitation, hygiene and waste management for COVID-19 pode ser acessado aqui.

O guia afirma que métodos tradicionais de tratamento de água e esgoto com filtração e desinfecção são suficientes para inativar o vírus. Como o vírus possui uma membrana celular lipídica, que não é robusta, ele tende a ser mais sensível ao cloro e demais processos de desinfecção do que comparado com outros vírus.

Para uma efetiva desinfecção da água ou esgoto, é importante que o cloro residual seja maior ou igual a 0,5 mg/L durante o tratamento, com tempo de contato mínimo de 30 minutos em pH superior a 8. Além disso, o cloro residual deverá ser mantido em todo sistema de distribuição de água.

Ainda, a Agência de Proteção Ambiental (EPA) dos Estados Unidos espera que embora os tratamentos descentralizados de águas residuais (fossas sépticas) não possuam operações unitárias para desinfecção, na maioria dos casos, desde que adequadamente gerenciadas podem tratar o COVID-19 da mesma maneira que gerenciam com segurança outros vírus já frequentemente encontrados.

A equipe da Ecovalor está à disposição para o esclarecimento de dúvidas, bem como auxiliar as empresas no desenvolvimento de suas estratégias de prevenção à Covid-19.

Evelin Maiara Goldmeyer Engenheira Ambiental CREA/RS 235822 evelin@ecovalor.eco.br

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